O órgão de vigilância de comunicações da Rússia disse nesta
sexta-feira, 4, que bloqueou o acesso a vários sites de organizações de
notícias estrangeiras por divulgar o que considerou “informação falsa” sobre a
invasão na Ucrânia. A lista de veículos inclui BBC, Voice of America, Radio
Free Europe/Radio Liberty e Deutsche Welle, dentre outros. A Meta Plataforms
Inc, detentora do Facebook, também foi restrita por “discriminação contra a
Rússia”.
“O acesso foi restrito a uma série de fontes de informação
estrangeiras”, disse o órgão de vigilância, conhecido como Roskomnadzor, em
comunicado, segundo a Reuters. “O motivo para restringir o acesso a essas
fontes de informação no território da Federação Russa foi a circulação
deliberada e sistemática de materiais contendo informações falsas.”
Em relação ao Facebook, o Roskomnadzor acusou a plataforma de
restringir o acesso à mídia russa. O comunicado informa que 26 casos de
discriminação contra a imprensa do país foram identificados desde outubro de
2020. O Facebook ainda não se pronunciou.
Já a BBC disse em resposta que “o acesso a informações
precisas e independentes é um direito humano fundamental” e que milhões de
russos confiam nas notícias do canal.
No início desta semana, a emissora inglesa disse que a
audiência do site de notícias em russo da BBC mais do que triplicou sua média
semanal no ano e que sua página ao vivo em russo para cobertura da invasão foi
o site mais visitado em todo o serviço mundial da BBC fora da língua inglesa,
com 5,3 milhões de visualizações.
“Muitas vezes se diz que a verdade é a primeira vítima da
guerra. Em um conflito em que a desinformação e a propaganda são abundantes, há
uma clara necessidade de notícias factuais e independentes nas quais as pessoas
possam confiar”, disse o diretor-geral da BBC, Tim Davie, em comunicado na
quinta-feira. “Continuaremos dando ao povo russo acesso à verdade, da maneira
que pudermos.”
Peter Limbourg, diretor geral da Deutsche Welle da Alemanha,
emitiu uma carta pública nesta sexta-feira para o público russo. “A situação do
jornalismo livre no país de vocês se torna mais difícil a cada dia”, disse ele.
“A programação russa da DW tem uma longa tradição. Sempre procuramos retratar
uma imagem completa da Rússia”. Limbourg chamou as pessoas na Rússia a “usar
ferramentas de desvio de bloqueio de internet para acessar os canais”.
A União Europeia baniu esta semana os meios de comunicação
estatais russos RT e Sputnik. O YouTube, TikTok e a empresa-mãe do Facebook,
Meta, também bloquearam o acesso ao conteúdo RT em suas plataformas na Europa.
A produtora por trás da RT America disse nesta semana que também fechará a loja
e demitirá funcionários, sinalizando um possível fim do meio de comunicação
financiado pelo Kremlin voltado para o público dos EUA.
Jornal russo apaga conteúdo para evitar sanções
O jornal russo independente Novaya Gazeta, cujo editor-chefe
é o mais recente ganhador do Prêmio Nobel da Paz, anunciou nesta sexta-feira a
exclusão de algumas de suas publicações sobre a guerra na Ucrânia para evitar
sanções do governo russo. “A lei que sanciona ‘fake news’ sobre as forças
armadas russas entrou em vigor (…) e somos obrigados a excluir vários
conteúdos. Mas decidimos continuar trabalhando”, anunciou o jornal.
Chefiado por Dmitri Muratov, ganhador do Nobel da Paz de
2021, o Novaya Gazeta existe desde 1993 e é visto como “uma importante fonte de
informação sobre aspectos censuráveis da sociedade russa que raramente são
mencionados por outros meios de comunicação”, de acordo com o Comitê Nobel
Norueguês. Na quinta-feira, Muratov pediu o cessar-fogo da guerra na Ucrânia e
falou em “ameaça real” de guerra nuclear.
Fonte: Estadão
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