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08 agosto 2023

FALHA NAS REDES MUNICIPAIS CAUSA SUPERLOTAÇÃO NO HOSPITAL WALFREDO GURGEL; DIZ SESAP

POR ISMAEL JEFFERSON


 A secretária de Saúde do Rio Grande do Norte, Lyane Ramalho, informou que a Sesap respondeu nesta segunda-feira à Justiça acerca da ação do MP para esvaziamento dos corredores. Ela aponta que o problema voltou a acontecer no Walfredo devido a uma série de fatores, como escalada nos atendimentos, saindo de 574 em fevereiro para 760 em julho, atrasos nos pagamentos de hospitais conveniados e falta de estrutura nos municípios. Ela não estabeleceu prazo para o esvaziamento dos corredores. Na tarde desta segunda-feira, 34 pacientes permaneciam nos corredores do hospital, segundo a Sesap.

Conforme publicou a TRIBUNA DO NORTE na edição deste domingo (06), a existência de macas com pacientes internados nos corredores do Hospital Walfredo Gurgel é um problema recorrente no RN. Nem mesmo a intervenção da Justiça é capaz de resolver a questão. Há 20 anos uma decisão judicial determina que o Estado pare de utilizar macas nos corredores para a internação de pacientes, sem que os governos sejam capazes de atender plenamente a determinação. A ação foi iniciada em 1999, a pedido do Ministério Público, e desde 2003 já teve pelo menos 3 determinações de cumprimento de sentença e acordos judiciais. Mesmo assim, o problema persiste.

Lyane disse que a situação é crônica e antiga e que o Estado promoveu reestruturação na rede nos últimos anos, situação que por si só não resolve a problemática, segundo ela. A gestora disse que municípios da Grande Natal não possuem serviços de baixa e média complexidade que acabam indo para atendimento no HEWG. Em julho, segundo ela, houve aumento nos atendimentos em virtude de festas juninas remanescentes no interior.
“Grande parte dos pacientes que estão nos corredores do Walfredo são queda no mesmo nível e acidentes de moto, situações preveníveis. Isso é estatístico. A maior parte desses pacientes são dos municípios da Grande Natal. Parnamirim é o que tem maior número de pacientes que entram de baixa complexidade. Fizemos uma audiência com o MP, que vai fazer uma pressão para que Parnamirim monte seu atendimento de baixa complexidade. Os outros municípios nós vamos nos juntar para montar esse serviço, que provavelmente será em São Gonçalo. Isso de alguma forma vai desafogar o Walfredo”, aponta.

Acerca da atual crise no Walfredo, Lyane Ramalho disse ainda que houve atrasos no pagamento com hospitais conveniados, como Memorial e Paulo Gurgel, mas que já houve renegociação acordada. Ela não estabeleceu prazos para o esvaziamento dos corredores. A Sesap informou ainda que fez reorganização de procedimentos internos para preparo de cirurgias e que está transferindo os pacientes para os hospitais conveniados. Há casos, segundo a Sesap, de que as unidades parceiras não conseguem receber mais demanda, o que acarreta nas lotações. Lyane diz ainda que a pasta fará uma reforma e ampliação no HEWG com investimentos da ordem de R$ 9 milhões.

“Isso é crônico. Tem seis meses que conseguimos esvaziar. Há pouco tempo a central de esterilização quebrou, atrasamos um ou outro pagamento, e os corredores lotam. O Walfredo é isso: a maior porta do Estado. Estamos com uma gestão que faz milagres para fazer atendimentos que seja o melhor possível, mas lidando com municípios que não dão conta da sua responsabilidade”, acrescenta.

A titular da Sesap disse que a pasta promoveu reforço em hospitais do interior para cirurgias ortopédicas. Foram beneficiados as unidades regionais de Mossoró, Assu, Pau dos Ferros e Caicó. “A ampliação proporcionou um incremento de 15% nas cirurgias ortopédicas entre 2021 e 2023, passando de 7388 para 8503 cirurgias (comparativo semestral). Incremento reflete também no número de atendimentos ortopédicos. No 1º semestre foram 18.928 atendimentos, dos quais 53% foram feitos nos hospitais regionais de Mossoró (4211), Caicó (2451) e Pau dos Ferros (3417)”, aponta boletim da Sesap.

Dados da Sesap repassados à TRIBUNA DO NORTE mostram que o Walfredo Gurgel promoveu 34.202 atendimentos no 1º semestre de 2023, sendo 4.674 casos de queda da própria altura, 4.027 acidentes de moto e 2.289 casos de AVC/AVE/rebaixamento de consciência. Ao todo, foram 7.977 internações, 1.517 casos de queda da própria altura, 1.360 acidentes de moto e 1.128 casos de AVC/AVE/rebaixamento de consciência.

Segundo dados da Sesap, pacientes de Natal e de municípios limítrofes com a capital foram responsáveis por 61,07% dos atendimentos em julho de 2023. Parnamirim, Extremoz, São Gonçalo do Amarante e Macaíba, juntos, somaram 20,15% dos atendimentos.  

O mais recente episódio da “novela” dos corredores do Walfredo Gurgel aconteceu no último dia 28 de julho, quando o juiz Artur Bonifácio, da 2ª Vara da Fazenda Pública, deu um prazo de 72 horas para que o Estado explicasse a situação do hospital. O processo judicial havia sido extinto no ano passado, após um acordo entre o Ministério Público e a Sesap. Contudo, neste ano, a Promotoria da Saúde constatou que os corredores voltaram novamente a abrigar dezenas de macas com pacientes e pediu mais uma vez o restabelecimento da ação e o cumprimento da sentença.

Relatos dos corredores

Medo, tensão e ansiedade no aguardo por um atendimento e uma cirurgia. Essa é um retrato da realidade de quem fica internado nos corredores do principal hospital do Rio Grande do Norte, o Walfredo Gurgel. Desde julho, as alas da unidade voltaram a ficar lotadas de pacientes alocados em macas, seja aguardando por leitos de enfermaria ou por uma cirurgia para dar fim às dores. As cenas não são novas na saúde do RN e carecem de medidas mais abrangentes, segundo interlocutores da saúde. A situação mais recente deixou a advogada paraense Rosália Silva, de 78 anos, aterrorizada, segundo palavras dela própria, ao ver as cenas nos corredores. Ela era uma das 39 pessoas nos corredores nesta segunda-feira (07) na unidade.

Segundo amigos, a advogada está em Natal para um período de férias quando escorregou e caiu durante estadia em um clube da capital potiguar. Ela mora em Belém do Pará e foi atendida por uma equipe do Samu Natal. Em um áudio gravado para amigos, disse estar “aterrorizada” com as cenas no Walfredo.

“Ela veio com um casal de Belém. A queda foi num clube ao andar e tropeçou, caindo por cima de uma cadeira. Foi imobilizada. Como o plano dela é do Pará, não tem convênio e ela precisou vir para o Walfredo. Não deram previsão de cirurgia para ela. Ela está consciente, mas estava muito nervosa, apavorada, pois nunca tinha passado por isso”, explica o amigo Adolfo Mendes Bandeira, 55 anos.

Outro caso é o do paciente José Ezequiel Soares, 31 anos. Ele já está internado no Walfredo há um mês aguardando uma cirurgia urológica e há uma semana está nos corredores aguardando um desfecho para seu caso.

“Me desceram com conversas de que iriam me dar alta, mas meu problema nem foi resolvido e ainda adquiri uma infecção hospitalar e cancelaram minha alta e me deixaram no corredor”, disse, alegando ainda que uma das equipes chegou a perder seu prontuário médico.

Quem também estava nessa situação era a mãe dos irmãos Sandro Silva, 52 anos, e Marcelo da Silva, 46 anos. Segundo eles, a mãe de 75 anos caiu ao tentar sentar em uma cadeira e machucou parte do rosto e fraturou o fêmur, lesão comum em idosos. A mãe, que já sofreu complicações de um AVC recente, está internada desde o último sábado (29) e ainda não há perspectivas de cirurgia.

"A gente quer agilidade até pela situação de ser uma senhora que está debilitada. E ela estar no corredor não é o local mais adequado para uma paciente como ela", reclama Sandro Silva. “Tem maus tratos porque ela está no corredor, exposta, temos que trocar fralda, é humilhante, e quando você vai pedir informações não se consegue. Na primeira vez que cheguei, a enfermeira me tratou mal a ponto de eu ficar constrangido de voltar lá. Quando pedi informação, ela apontou para a placa da greve sem olhar pra mim", lamentou Marcelo.


Com informações tribuna do Norte 

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