Além de mirar integrantes do PCC e do Comando Vermelho, a Operação
Dakovo – investigação da Polícia Federal sobre poderoso esquema de tráfico
internacional de armas – tem como alvo um servidor do Ministério Público
Federal, lotado na cúpula da instituição, a Procuradoria-Geral da República.
Analista processual, Wagner Vinicius de Oliveira Miranda é apontado como
suposto integrante do ‘núcleo financeiro’ da quadrilha desbaratada na Operação
Dakovo.
Os
investigadores se debruçam sobre supostas operações entre uma companhia do qual
o servidor do MPF é sócio e uma empresa cujas contas são usadas para
recebimento de pagamentos de armas e drogas – a qual é controlada por Angel
Antonio Flecha Barrios, apontado como intermediário da quadrilha que atuava na
fronteira do Brasil com o Paraguai, abastecendo as principais facções
brasileiras com pistolas, fuzis e munições de grosso calibre, arsenal que seria
usado para ‘enfrentamento’.
A
Justiça Federal da Bahia determinou que a Polícia Federal vasculhasse a casa de
Wagner no bojo da fase ostensiva da Operação, aberta na terça-feira, 5. Também
foi decretado o afastamento cautelar de Wagner da PGR por 30 dias, com a
suspensão de acesso a sistemas internos ou externos que ele tenha em razão do
cargo que ocupa.
A
Justiça entendeu que a medida era necessária uma vez que, enquanto servidor
lotado na PGR, Wagner possuía ‘livre acesso a sistemas e dados internos,
podendo, eventualmente, acessar informações sensíveis relacionadas à operação’.
A
Justiça levou em consideração o fato de Wagner possuir cadastro ativo nos
sistemas do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, como servidor do MPF, ‘de
modo que tem acesso a todos os processos, inclusive aqueles classificados com
sigilo’.
Wagner
é listado como integrante de um grupo de pessoas que ‘figuram nos comprovantes
de depósitos e que permitiram o uso de suas contas bancárias para o recebimento
de pagamentos de armas e drogas por parte de criminosos no Paraguai’.
Ele
passou a ser investigado após a PF encontrar seu nome em meio à análise de
dados de Angel Antonio Flecha Barrios, responsável por repassar armas ilegais
importadas da Europa para as duas maiores facções brasileiras, PCC e Comando
Vermelho.
Segundo
os investigadores, Angel é um dos expoentes do núcleo de intermediários da
quadrilha – ‘os que realizam o contato com os compradores, transportam os
carregamentos de armas e drogas, conforme a oportunidade e conveniência, e
operam a internalização das armas em território nacional, via fronteira entre
Brasil e Paraguai’.
A
PF apura o envolvimento de Wagner com uma suposta operação financeira ligada a
Angel. O servidor do MPF é sócio de duas empresas: a Steak House Restaurante e
a Bravoshop plataformas de vendas online. Esta última, segundo a PF, seria uma
empresa de fachada. Um outro sócio foi identificado como Raimundo Nascimento
Pereira.
A
PF apurou que Raimundo consta como sócio da empresa Bravo Brasil – ‘sem
empregados registrados e sem funcionamento no endereço constante nos seus
registros cadastrais’. Tanto a Bravo Brasil como a Bravoshop têm o mesmo e-mail
e telefone no cadastro e foram abertas no mesmo dia.
Tais
informações se tornaram relevantes quando a PF analisou as informações
guardadas na nuvem de Angel. Os investigadores encontraram uma conversa entre o
intermediário e um certo ‘Hevert’, tratando sobre tráfico de armas e de drogas
(maconha e cocaína) e substâncias químicas utilizadas na preparação de ketamina
e anfetamina.
Entre
12 e 19 de julho de 2022, ‘Hevert’ enviou na conversa três comprovantes
bancários com transferências que totalizam R$ 53.000 da conta da Bravo Brasil –
Iphones Ltda para as contas da DDM Aviação Ltda e David Carlos Ferreira Ltda,
usadas por Angel.
A
DDM Aviação é uma empresa cujas contas são utilizadas para recebimento de
pagamentos de armas e/ou drogas (que são internalizadas ilicitamente no Brasil)
por parte de criminosos no Paraguai, diz a PF.
A
corporação apontou, ainda, a informação de Relatório de Inteligência Financeira
envolvendo as remessas de R$ 100 mil e R$ 50 mil de Wagner para a Bravo Brasil
– Iphones, nos dias 20 de julho e 24 de outubro de 2022, referente a depósitos
em dinheiro, e comunicadas por suspeita de lavagem de dinheiro.
Estadão
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