Na primeira reunião ministerial de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou os integrantes do primeiro escalão governo a viajarem mais e divulgarem realizações do governo, segundo participantes do encontro. Lula pediu que as eleições municipais sejam deixadas em segundo plano e também se queixou dos números da dengue no país.
O presidente quer ver ministros de todas as áreas rodando o Brasil, dando entrevistas e ocupando espaços de mídia em geral para divulgar ações consideradas positivas. Há uma avaliação entre auxiliares que esse movimento poderia ajudar a contrabalançar repercussões negativas de falas do presidente, que também acabam afetando sua popularidade. A orientação é que os titulares das pastas não falem apenas sobre as suas respectivas áreas, mas apresentem um panorama geral das ações da gestão.
Lula repetiu aos auxiliares que agora é hora de colher e não de criar novos programas. O presidente citou que é preciso fazer as verbas render, fazendo com o que está no Orçamento deste ano seja entregue — segundo um auxiliar, o presidente estava “agitado, animado e acelerado”.
“O presidente pediu que cada ministro procure revisitar tudo o que lançou. Ele não quer ver anunciando novos programas, novas ações, mas concretizar o que foi lançado. Já tem um portfólio robusto. Os resultados do governo e da economia têm que ser agregados em indicadores que sejam compreendidos pela população”, afirmou o ministro da Casa Civil, Rui Costa, após o encontro.
A mais curta reunião ministerial do governo Lula até agora não teve fala de todos os ministros. Além de Rui Costa (Casa Civil), falaram os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, da Comunicação Social, Paulo Pimenta e o da Justiça, Ricardo Lewandosvki. Haddad fez uma apresentação com perspectivas econômicas para 2024.
“Ainda falta muito”
Na parte aberta do encontro, Lula citou uma série de ações do governo federal desenvolvidas ao longo do último ano, como a ampliação do Bolsa Família e o reajuste do salário mínimo, mas afirmou que “ainda falta muito” para ser feito no país.
“Todo mundo sabe também que ainda falta muito a gente fazer. Por mais que a gente tenha recuperado Farmácia Popular, Mais Médico, por mais que tenha feito clínica, a gente tem ainda muito para fazer em todas as áreas. E muito não é nada estranho, é tudo o que nos comprometemos a fazer”, disse.
Comunicação
Após o encontro, o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, afirmou que o governo vai investir mais na segmentação por meio das redes sociais: “Na mesma forma que 2023 foi o ano do plantio para as outras áreas, para a comunicação também. Então teremos novidades neste ano pelas necessidades que tivemos. Hoje, qualquer comunicação institucional é segmentada para determinados públicos. As ferramentas digitais vão permitir comunicação mais direcionada, para públicos específicos”.
Eleição em segundo plano
Depois de um discurso transmitido na abertura do encontro realizado no Palácio do Planalto, o presidente falou novamente na parte fechada da reunião. Com 11 partidos com representantes no ministério, Lula quer evitar que a disputa pelas prefeituras traga reflexos negativos para o governo. Lula reforçou que não quer que a eleições municipais contaminem a agenda do governo.
Nísia: relação com o Congresso
A ministra da Saúde, Nisia Trindade, também tratou de ações do seu ministério. Relatou a importância de atender melhor as bancadas de parlamentares. O ministério é alvo de críticas de deputados pelo atraso no repasse de emendas.
Programa pé-de-meia
Lula destacou também a importância do programa Pé de Meia, do Ministério da Educação, voltado a estudantes do Ensino Médio. Lula também tem expectativas de que o Ministério da Educação, comandado por Camilo Santana, traga bons dividendos para sua popularidade.
Antes criticado, Camilo, segundo um ministro palaciano, “encontrou o rumo” do ministério nos últimos meses. A avaliação é que agora Camilo tem entregas para mostrar: o programa Pé de Meia, escola em tempo integral e o Desenrola Fies. Integrantes do Ministério da Educação têm estudado estratégias para que as informações do programa Pé de Meia cheguem de forma eficiente à rede escolar e aos estudantes do Ensino Médio.
Igualdade salarial é pauta
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, tratou do tema da igualdade salarial e o presidente demonstrou incômodo com entidades do setor produtivo que estão entrando no STF para questionar a lei de igualdade salarial.
Na última quarta-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo (CNC) entraram no STF com uma ação contra trechos da lei que obriga o pagamento de salários iguais para homens e mulheres na mesma função.
Bolsonaro é chamado de “covardão”
O presidente afirmou ainda que não há mais dúvida de que houve uma tentativa de golpe nos ataques de 8 de janeiro e chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro de “covardão”. Lula afirmou que “pessoas que estavam no comando das Forças Armadas” não quiseram “aceitar a ideia” de golpe do ex-presidente. Na última sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo de parte dos depoimentos que compõem a investigação da trama do golpe.
“Se há três meses quando a gente falava em golpe parecia apenas insinuação, hoje nós temos certeza que esse país correu sério risco de ter um golpe em função das eleições de 2022. E não teve golpe não só porque algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas não quiseram fazer, não aceitaram a ideia do presidente, mas também porque o presidente é um covardão”, afirmou Lula.
Lula, então, afirmou que Bolsonaro “ficou em casa chorando” e que depois fugiu para os Estados Unidos com a expectativa de que o golpe acontecesse.
“Ele não teve coragem de executar aquilo que planejou, ficou dentro de casa chorando quase que um mês e preferiu fugir para os EUA do que fazer o que tinha prometido, na expectativa de que fora do país o golpe poderia acontecer porque eles financiaram as pessoas na porta dos quarteia para tentar estimular o golpe”.
Em um dos depoimentos, o ex-chefe da Aeronáutica Baptista Júnior afirmou a PF que o ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, tria ameaçado Bolsonaro de prisão caso avançasse com a tentativa de golpe de estado.
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