O Hospital Monsenhor Walfredo
Gurgel registrou um aumento de 27,8% no número de atendimentos a pacientes com
suspeita de Acidente Vascular Cerebral (AVC) em julho, se comparado com o mês
anterior. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde Pública, foram 454
atendimentos no mês passado, ante 355 em junho. Entre fevereiro e julho deste
ano foram 2.262 atendimentos. Já os casos confirmados da doença e as mortes em
2024 somaram, respectivamente, 841 e 117 até maio (os dados de junho e julho
neste recorte ainda não estão disponíveis).
O
médico Marcelo Marinho, presidente da Sociedade Norteriograndense de
Neurologia, explica que o aumento dos casos suspeitos pode ter sido provocado
porque, no mês passado um plantão de neurologia foi instalado no Walfredo.
“Quando se coloca um especialista de plantão, os casos suspeitos vão aumentar.
Há muito tempo o RN não tinha isso, então, atribuo esse aumento à melhora da
visualização do serviço [plantão de neurologia] e do treinamento da equipe para
a identificação dos prováveis pacientes”, pontua.
O neurologista afirma que não
existe, nem no Estado nem no País, fatores que apontem para uma alta de casos
de AVC. No ano passado, 2.555 pacientes foram hospitalizados pela doença no RN,
uma redução de 15,3% no comparativo com 2022, quando a Sesap registrou 3.017
internações por Acidente Vascular Cerebral. Segundo Marinho, a rede pública do
Estado tem realizado esforços para criar uma rede de cuidados para o
atendimento dos pacientes, com a criação da equipe de plantão no Walfredo.
Para
além do tratamento, no entanto, o neurologista afirma que a prevenção é
extremamente importante. “Há uma estatística bem impactante, de que 90% dos
AVCs podem ser prevenidos, porque os fatores de risco são modificáveis”, diz.
Segundo ele, os principais fatores são diabetes, pressão alta, colesterol,
sedentarismo, obesidade, cigarro, álcool e apneia do sono. “Quanto mais
fatores, maior o risco. Quanto maior o controle deles, menor as chances da
doença”, pontua o médico.
Ele
alerta que, na maioria das vezes, o controle é negligenciado. “Geralmente, as
pessoas vão protelando os cuidados. O desafio é mudar essa situação. Outro
ponto é que casos mais complexos [de controle] precisam de profissionais
específicos, como um cardiologista ou um endocrinologista, por exemplo, o que
dificulta os cuidados por parte da população”, afirma Marcelo Marinho. Uma vez
ocorrendo a doença, diz o neurologista, os esforços são para evitar danos, revertê-los
ou garantir o menor impacto possível.
“O
AVC isquêmico precisa que a artéria seja desobstruída, e o coágulo, dissolvido.
Ainda não temos esse serviço no SUS no RN. No AVC hemorrágico, precisa, muitas
vezes, de uma cirurgia para retirar o coágulo. Nos dois casos, o tempo é
fundamental. Quanto maior a demora, mas o paciente perde neurônios”, diz
Marinho. A demora no socorro ao paciente com AVC é uma das preocupações do
Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed), em razão da estrutura da rede.
Geraldo
Ferreira, presidente do Sinmed, diz que vê a estrutura do SUS muito deficitária
no Estado. “Muitas vezes é preciso lançar mão de fazer um trombolítico
(aplicação de remédio na veia) e isso é realizado em uma cadeira, numa situação
totalmente inadequada”, comenta. Ferreira critica, ainda, o fato de tornar o
Walfredo Gurgel uma unidade de referência para tratamento do AVC. “Para isso, o
ideal era que houvesse, pelo menos, condições mínimas. O hospital precisa fazer
uma série de atendimentos, mas não oferece condições adequadas aos pacientes”,
finaliza.
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