O número crescente de acidentes de moto no Rio Grande do Norte tem
acendido um alerta sobre a necessidade de maior conscientização e reforço na
fiscalização. Em julho deste ano, o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, em
Natal, registrou 860 atendimentos a vítimas de acidentes de moto, o maior
número da série histórica, segundo dados da Secretaria de Saúde Pública
(Sesap). Especialistas destacam que o cenário tem relação com a falta de
educação no trânsito e a circulação de motoentregadores e mototaxistas na
capital.
O Rio
Grande do Norte tem 497.772 motocicletas e motonetas em circulação, número
10,9% maior do que o registrado em 2022, conforme planilhas do Departamento Estadual
de Trânsito (Detran-RN). O crescimento desordenado da frota de motocicletas e o
uso desse meio de transporte como principal fonte de renda por muitos
trabalhadores acentuam a gravidade da situação, alertam especialistas.
O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do
Nordeste (Fetronor), Eudo Laranjeiras, avalia que o momento é muito perigoso
para quem trafega no Estado, sobretudo na capital. “As pessoas têm comprado
moto com maior facilidade e, na minha visão, essa questão dos mototáxis,
motouber, tem muita contribuição nisso. Infelizmente vivemos um cenário
preocupante de insegurança no trânsito, que afeta todos, independente do meio
de transporte utilizado”, destaca.
Segundo ele, os trabalhadores nem sempre são capacitados para exercer as
funções de mototáxi, o que acaba contribuindo para o aumento de acidentes.
“Muitas vezes as pessoas não têm habilidade, não são profissionais, não são
preparadas para transportar passageiros, a falta de legislação sobre esse
assunto também contribui para isso. É uma tristeza. É uma fuga porque o ideal
seria as pessoas utilizarem o transporte público, como o ônibus, por exemplo,
algo mais confiável, mas é um problema que as autoridades devem se mobilizar”,
acrescenta Laranjeiras.
Os 860 atendimentos de vítimas de acidentes com moto representam um
aumento de 13,1% em relação ao recorde anterior (julho de 2023), quando foram
contabilizados 760 acidentes. Os registros são responsáveis por uma parte
considerável dos atendimentos do Hospital Walfredo Gurgel, de acordo com a
diretoria da unidade. Ainda segundo dados do hospital, a maioria das vítimas
que chegam à unidade é formada por homens jovens, com idades entre 20 e 35
anos, oriundos, principalmente, da Região Metropolitana de Natal.
A pedagoga Luzia Fernandes, que faz contribuições para o Departamento de
Educação da Secretaria de Mobilidade (STTU), aponta que muitos desses acidentes
poderiam ser evitados com a adoção de medidas preventivas e educativas. Ela
destaca que a secretaria fará atividades educativas e de conscientização com
mototaxistas e motoentregadores para tentar coibir acidentes.
“A gente compõe o Vida no Trânsito, com STTU, Detran, PRF e Walfredo.
Estamos estudando formas de como chegar nesse público. É tão complicado chegar
neles, eu já montei cursos aqui no centro de treinamento, fizemos a divulgação
para as cooperativas, que tem os profissionais regularizados, tudo direitinho,
mas, mesmo assim, eles não vêm. Iremos também aos locais onde eles se
concentram em determinado horário, então vamos fazer essa abordagem para ver se
a gente consegue mostrar o quanto é importante eles se cuidarem”, explica
Fernandes.
Luzia reforça ainda a necessidade de investimentos em educação no
trânsito e fiscalização. “Aqui em Natal a gente tem regulamentado a profissão
de motoentregador, no entanto, a maioria dos que estão ai, não participou do
curso. Nesse sentido falta fiscalização para realmente deixar trabalhando
habilitadas, com noções de direção defensiva, obediência às leis de trânsito e
pilotagem segura”, destaca Luzia Fernandes.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a Associação
Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) – que representa as empresas
Uber e 99 – para repercutir a relação entre os acidentes e o serviço de viagens
por aplicativo, apontada pelos especialistas. A Associação afirmou que “as
empresas associadas contam com um seguro contra acidentes pessoais durante as
viagens para os motociclistas parceiros e usuários. Em caso de alguma
ocorrência, profissionais ou usuários devem reportar o ocorrido para as
plataformas”. E acrescentou: “As motocicletas facilitam o acesso a lugares como
vias estreitas e/ou íngremes, locais de acesso mais difícil para outros
veículos. Além disso, o serviço é utilizado de forma complementar ao transporte
público, oferecendo conexão rápida a terminais e estações para a integração com
outros meios de transporte”.
TRIBUNA DO NORTE
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