O consumo nos lares brasileiros aumentou em 2024, registrando um acréscimo de 2,54% nos primeiros oito meses do ano, conforme o monitoramento mensal da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). Em agosto, o indicador mostrou alta de 1% em relação a julho, impulsionado pela segunda queda consecutiva nos preços dos alimentos e bebidas para consumo domiciliar. Comparado a agosto de 2023, o aumento foi de 1,16%.
No Rio Grande do Norte, entretanto, a Associação de Supermercados (Assurn) observou que esse crescimento no consumo não foi constatado. Apesar do bom desempenho nacional, as expectativas para os próximos meses são pouco animadoras, devido à estiagem prolongada e às queimadas, que podem elevar os preços dos alimentos.
“O recuo da inflação no grupo de alimentos e bebidas tem favorecido o consumo domiciliar, assim como o crescimento gradual do emprego formal e as transferências de recursos dos programas sociais do governo federal”, analisou o vice-presidente da ABRAS, Marcio Milan.
A queda nos preços de alimentos e bebidas foi de -0,73% em agosto e de -1,51% em julho. A alta do consumo também foi influenciada pela sazonalidade gerada pelo Dia dos Pais e pelo efeito calendário (cinco finais de semana em agosto, contra quatro em julho). Segundo a ABRAS, a projeção de crescimento de 2,50% para o setor foi alcançada. Todos os indicadores foram ajustados pela inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e contemplam todos os formatos de supermercados.
O professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Zivanilson Silva, afirmou que o aumento do consumo ainda é tímido, especialmente em relação ao poder de compra, mas acompanha o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). “Isso, de certa forma, inibiu um consumo maior. Há uma correlação entre o aumento do consumo e o crescimento do PIB, que também foi muito pequeno, e tudo isso está relacionado ao poder de compra”, explicou.
Em nível local, a Assurn reafirma que o aumento do consumo não foi percebido. “Conversamos com nossos associados e não tivemos a mesma percepção de crescimento no mercado local. Tanto que verificamos quedas no faturamento em setembro”, disse o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios (Sincovaga/RN), Geraldo Paiva, que faz parte da diretoria da Assurn.
Pelos supermercados, consumidores também negam sentir um aumento no consumo. “Muita coisa ficou mais cara, então a gente tem que equilibrar. Procuro onde tem promoção. Mas acho que, em vez de aumentar, reduzimos as compras, porque tem coisas que às vezes não dá para comprar”, comentou a aposentada Maria da Glória Silva, de 75 anos.
É nas promoções que os consumidores conseguem aproveitar para comprar um pouco mais, como explica a dona de casa Vera Lúcia, de 59 anos. “Tenho ido muito menos ao supermercado porque compro muito pouco. O preço está muito alto, mas compro a mesma quantidade. Só quando tem promoção dá para levar mais”, relata.
Para a auxiliar de serviços gerais Ozilene Bezerril, de 56 anos, outras despesas estão pesando mais no orçamento, o que implica economizar nas compras, apesar de notar que alguns produtos estão mais baratos em comparação com meses anteriores. “As verduras estão em conta, por exemplo.
Mas temos que diminuir outras coisas, como material de limpeza. A conta de energia aumentou muito lá em casa e isso tem impactado o orçamento. Aí temos que cortar de outras despesas para conseguir pagar”, explica.
Alimentos podem ficar mais caros nos próximos meses
Assim como a ABRAS, o economista também avalia que esse aumento no consumo poderá não se sustentar devido à estiagem prolongada e ao excesso de queimadas. “A estiagem aliada às queimadas, de certa forma, pressionará também o custo da energia nos lares, e tudo isso terá reflexos no consumo. Isso pode implicar em um aumento generalizado de preços, principalmente de produtos oferecidos nos supermercados, como alimentos, hortifrútis e granjeiros”, aponta o economista Zivanilson Silva.
A ABRAS prevê que, no curto prazo, verduras folhosas, frutas e legumes devem ter impacto na oferta no campo e, consequentemente, nos preços ao consumidor até o final do ano. Além desses itens, o preço do café torrado e moído deve continuar pressionado, acumulando alta de 20% no ano. Os impactos também devem ser sentidos no preço do açúcar. Com as queimadas, há uma redução na oferta, enquanto a demanda permanece aquecida, uma vez que, além do consumo familiar, o produto é insumo para as indústrias de alimentos, bebidas e farmacêutica.
Os efeitos das queimadas também devem elevar os preços das proteínas animais no segundo semestre, quando, tradicionalmente, os preços aumentam devido à chegada das festas de fim de ano e ao crescimento das exportações. “As queimadas afetam as áreas de pastagens e aumentam os custos dos pecuaristas, que são repassados ao consumidor. É importante ressaltar que, se o preço da carne bovina sobe, ela impulsiona a demanda por outras proteínas, como frango e suínos”, explica o vice-presidente da ABRAS, Marcio Milan. A orientação para o consumidor é ter cautela. “Equilibrar o orçamento, pesquisar e ver onde há um preço mais acessível”, orienta Zivanilson Silva.
TRIBUNA DO NORTE
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