02 janeiro 2025

JOÃO DIAS/RN: VIÚVA DE PREFEITO ASSASSINADO TOMA POSSE EM SESSÃO VIRTUAL E DEDICA VITÓRIA AO MARIDO

REDAÇÃO ITAJÁ TV

Viúva do prefeito Marcelo Oliveira (União), assassinado junto com o pai Sandi Oliveira durante a campanha eleitoral de 2024, Fatinha de Marcelo (União) tomou posse do cargo de prefeita de João Dias nesta quarta-feira (1º). A cidade de pouco mais de 2 mil habitantes fica na região Oeste do Rio Grande do Norte.

A prefeita participou da cerimônia de forma virtual, ao lado do vice-prefeito João Pedro, do mesmo partido. No discurso, ela dedicou a vitória ao marido morto e ao sogro.

"Essa vitória não é só minha. Essa vitória é de Marcelo Oliveira, é de Sandi Oliveira, e de cada um de vocês que sonham com uma João Dias mais justa, desenvolvida e cheia de oportunidades", declarou.

Maria de Fátima Mesquita da Silva tem 33 anos e foi indicada pelo União Brasil como candidata, em substituição ao marido. Marcelo e o pai, Sandi Oliveira, foram mortos no dia 27 de agosto, durante a corrida eleitoral, enquanto faziam visitas a eleitores.

No dia 6 de outubro, Fatinha foi eleita com 66,8% dos votos válidos no município.

A assessoria da prefeita eleita informou que ela solicitou participação na sessão de forma virtual por motivo de segurança.

Segundo a Polícia Civil, a ex-vice-prefeita da cidade de João Dias, Damária Jácome (Republicanos), e a vereadora Leidiane Jácome, irmã dela, são suspeitas de mandar matar o prefeito Marcelo Oliveira (União Brasil). As duas são consideradas foragidas.

Damária também disputou a eleição para prefeita de João Dias em 2024 e ficou em segundo lugar, atrás de Fatinha, com 20,8% dos votos.

No dia 27 de dezembro, a Polícia Civil prendeu um pastor evangélico apontado como um dos mandantes, que teria ajudado a planejar o crime. No mesmo dia, a polícia tentou cumprir mandados de prisão contra as irmãs, mas não as localizou. Outras três pessoas também seguem foragidas.

Segundo o delegado Alex Wagner, da Divisão de Polícia do Oeste, o assassinato foi motivado por uma disputa política e familiar no município.

Histórico
Marcelo e Damária disputaram juntos a campanha eleitoral de 2020 e foram vitoriosos, ele como candidato a prefeito e ela, vice-prefeita. Ambos representavam famílias tradicionais na cidade, lideradas por Sandi Oliveira (pai de Marcelo) e Laete Jácome (pai de Damária e vereador).
A família de Laete já era investigada por crimes como o de milícia privada. Durante a campanha eleitoral de 2020, ele foi preso em flagrante por posse ilegal e receptação de armas. Damária também foi considerada foragida da polícia, na época.
Cerca de 7 meses após tomar posse do cargo, Marcelo pediu afastamento da prefeitura e Damária assumiu a gestão municipal em julho de 2021.
Em 2022, o prefeito afastado afirmou à Justiça que foi coagido pela vice-prefeita, além do pai e irmãos dela, para deixar o cargo. Em outubro daquele ano, uma decisão da desembargadora Maria Zeneide Bezerra, do Tribunal de Justiça do RN, determinou o retorno imediato de Marcelo Oliveira à prefeitura.
Em dezembro de 2022, Damária e Laete Jácome foram afastados dos cargos e tiveram mandados de prisão expedidos pela Justiça. À época, os dois negaram qualquer tipo de extorsão contra o então prefeito da cidade e alegaram que ele teria renunciado por motivação própria.
Segundo a polícia, a acusação de Marcelo e o retorno dele ao cargo gerou uma cisão política e pessoal entre as famílias.
Ainda de acordo com o delegado Alex Wagner, a família da vice-prefeita e da vereadora atribuía ao prefeito a morte de dois irmãos em confronto com a polícia na Bahia e a prisão de um terceiro em 2022. Eles tinham mandados de prisão abertos por tráfico de drogas.


"Eles começaram a imputar a Marcelo, que estava entregando a localização dessas pessoas. Além de que houve a apreensão de um fuzil na cidade, que também se imputava que Marcelo teria entregue (a localização)", disse o delegado.
Patriarca da família da vice-prefeita, Laete morreu de causas naturais no primeiro semestre de 2024.

Plano
Segundo a polícia, um pastor de 27 anos de idade ajudou no planejamento do assassinato do prefeito de João Dias, Marcelo Oliveira, e o pai dele, Sandi Oliveira, segundo a Polícia Civil. Uma operação realizada na sexta-feira (27) buscava cumprir seis mandados de prisão e outros seis de busca e apreensão domiciliar nas cidades de João Dias, Patu e Marcelino Vieira. O pastor foi preso na ocasião.

De acordo com o delegado Alex Wagner, o pastor teria auxiliado o grupo de mandantes a tentar encontrar um lugar ideal para o crime ser cometido. A igreja evangélica, inclusive, chegou a ser pensada como possibilidade.

"A questão do pastor é que ele ajudava na logística do crime, de encontrar o melhor local pra cometer o crime, o momento mais adequado", explicou o delegado.

"Foi cogitado, inclusive, cometer durante o culto onde o Marcelo [prefeito] visitava, porque era o momento que ele estava vulnerável, exposto".
O que a defesa da vice-prefeita e da vereadora diz sobre a suspeita da polícia
Em nota, a defesa das irmãs informou que "reafirma a inocência de ambas e a ausência de qualquer relação com esses crimes". Além disso, garantiu que Damária e a irmã não estão foragidas.

"Sequer sabiam dessa operação ou de qualquer mandado de prisão contra elas. Como é comum nesse período, a família viajou", informou a nota.
Segundo o advogado, "devido ao clima de insegurança na cidade, Damária achou por bem ficar longe durante esses dias que antecedem a posse da prefeita eleita, evitando com isso qualquer tipo de problema".

O advogado disse ainda que Damária enviou para todas as autoridades "denúncias de ameaças que ela e sua família estão sofrendo e, por segurança, todos saíram da cidade".

O crime
Embora fosse conhecido como Marcelo, o nome do prefeito de João Dias era Francisco Damião de Oliveira, de 38 anos.

Ele era candidato à reeleição e, junto do pai, estava visitando casas de apoiadores no fim da manhã do dia 27 de agosto, por volta das 11h, no conjunto São Geraldo, em João Dias, quando criminosos distribuídos em dois veículos chegaram repentinamente ao local e atiraram contra os dois. Um segurança do gestor também foi baleado.

O pai do prefeito, Sandi Alves de Oliveira, de 58 anos, morreu na hora. Marcelo chegou a ser socorrido e deu entrada com vida em um hospital de Catolé do Rocha, na Paraíba, mas não resistiu aos ferimentos. Segundo a polícia, ele foi atingido por 11 disparos de arma de fogo.


Executores presos
No mesmo dia do crime, as forças de segurança do Rio Grande do Norte começaram uma força tarefa para prender os assassinos. Além de quatro suspeitos de envolvimento na execução, outras 10 pessoas foram presas suspeitas de montar um plano de vingança pelo assassinato do gestor, na ocasião.

Durante a investigação outros dois suspeitos de serem executores foram presos. Um homem encontrado morto em uma área de mata também foi apontado como um dos envolvidos no crime. A polícia acredita que ele foi baleado durante o assassinato do prefeito.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Rio Grande do Norte, o inquérito foi concluído com o indiciamento de oito pessoas como executores e outras cinco como mentores intelectuais do duplo homicídio, "além de 10 pessoas já indiciadas por formação de milícia". Dos cinco apontados como mentores intelectuais, apenas o pastor está preso. Os outros são considerados foragidos.

Gestão municipal
Após o crime, o irmão de Marcelo e filho de Sandi Oliveira, Jessé Oliveira, então presidente da Câmara Municipal, assumiu a gestão do município, porque a vice-prefeita Damária Jácome estava impedida pela Justiça. Ele abriu mão da candidatura à reeleição ao cargo de vereador.

Quem eram as vítimas
Eleito pela primeira vez em 2020, Marcelo renunciou ao mandato em julho de 2021, mas voltou à Prefeitura em outubro de 2022, depois que alegou na Justiça que tinha sido coagido a abrir mão do cargo sob ameaças da família da sua então vice-prefeita, Damária Jácome.

Marcelo já tinha uma carreira política no município. Ele foi eleito vereador em 2008 e 2012 e foi candidato a prefeito pela primeira vez em 2016, mas não conseguiu se eleger naquela ocasião.

Pai de Marcelo, Sandi Alves de Oliveira, de 58 anos, também já tinha sido vereador do município e era apontado pelo filho como sua inspiração na política.

João Dias é o terceiro menor município do Rio Grande do Norte, com pouco mais de 2 mil habitantes, segundo o IBGE. Ainda de acordo com o instituto, a cidade localizada na região do Alto Oeste, na divisa com a Paraíba, contava com apenas 294 pessoas ocupadas em 2022, com rendimento médio de 1,5 salário mínimo.

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