12 janeiro 2025

RN CHEGA A MAIS DE MIL DOADORES DE MEDULA ÓSSEA

REDAÇÃO ITAJÁ TV

O transplante de medula óssea é um procedimento essencial que pode salvar vidas de pessoas acometidas com cerca de 80 doenças, como leucemias, linfomas e síndromes de imunodeficiência. No Brasil, o número de doadores registrados tem crescido significativamente, refletindo um aumento na conscientização sobre a importância desse ato. Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas no Rio Grande do Norte, o estado passou de 572 doadores em 2023 para 1.074 cadastrados no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (REDOME) até o primeiro semestre de 2024. No país, o quantitativo alcança mais de 5,5 milhões.

A médica hematologista Valquíria Bandeira destaca que, mesmo diante do avanço no número de doadores, a busca por um doador compatível ainda representa um grande desafio para os pacientes. “A maior dificuldade que o paciente oncológico enfrenta é encontrar o doador ideal, seja entre os familiares ou através do banco de doadores, como o REDOME”, explica a médica. Atualmente, mais de 650 pessoas no Brasil aguardam por um doador. “Quanto mais doadores cadastrados, mais chances um paciente tem de encontrar a compatibilidade necessária para o transplante”.

A medula óssea é o tecido esponjoso encontrado no interior de alguns ossos, responsável pela produção das células sanguíneas (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). Quando a medula não consegue produzir essas células devido a doenças como leucemia, anemia aplástica ou linfoma, o transplante de medula óssea pode ser a única esperança para a cura. Este procedimento consiste na substituição da medula doente ou deficiente por uma saudável, doada.

“A busca de um doador compatível geralmente começa com os familiares, que se inicia com irmãos e pode também ser feita com os pais. Não tendo o doador aparentado ideal, ou seja, fazendo o exame de compatibilidade e não tendo esse doador na família possível, a gente vai para o banco de doadores brasileiro e também mundial, que é o REDOME, com os doadores não aparentados”, explica a médica hematologista especialista em transplante de medula óssea.

Foi através de um doador fora da família que a vida de Rogéria da Silva, 26, moradora de São Bento do Trairi, no interior do Rio Grande do Norte, foi transformada. Diagnosticada com leucemia mieloide aguda, a potiguar passou por um longo processo de tratamentos sem sucesso e, há cerca de um ano, a equipe médica que a acompanha decidiu que ela precisava de um transplante de medula óssea. No entanto, seus familiares não puderam ser doadores devido a problemas de saúde, o que restou como a única alternativa a busca de um doador compatível no REDOME.

“Fiquei muito preocupada, mas graças a Deus encontrei um doador 100% compatível. Estou extremamente grata, pois essa pessoa me deu a chance de continuar vivendo”, conta Rogéria com gratidão, ressaltando o desejo de conhecer o doador. “A experiência foi bem difícil e dolorosa, mas vencermos uma etapa”. Ao todo, desde a entrada na lista de espera pela doação, Rogéria precisou aguardar cerca de um mês até o transplante, que aconteceu em Natal.

O processo de isolamento e os desafios emocionais também foram os principais obstáculos enfrentados por Rogéria, que teve que sair de sua cidade e se afastar do filho. “Ficar longe de casa, em isolamento, foi uma parte bem difícil, mas sabia que era a única chance de salvar minha vida”, recorda com emoção, ao lembrar da volta para São Bento do Trairi já transplantada para o afago da família.

Outra dificuldade enfrentada por pacientes em razão do isolamento, que pode durar entre três a seis meses, é a perda de renda. Segundo a hematologista Valquíria Bandeira, esse é um problema socioeconômico recorrente em razão das doenças oncológicas, mas pouco lembrado. Essa dificuldade também foi vivenciada por Rogéria, que contou com o apoio de familiares, amigos e casas de apoio, como a HATMO e a Onco & Vida, que atuam além do suporte emocional.

“Tive um apoio surreal da família, do meu esposo e da minha mãe. Aos meus amigos tenho muita gratidão, pois recebi muita doação que me possibilitou consegui pagar os aluguéis e o transporte para poder realizar o tratamento. Das casas de apoio, também recebi enxoval, medicamentos que não podia pagar e cesta básica”, relata.

Associação auxilia pacientes

Sem fins lucrativos, a Associação de Humanização e Apoio ao Transplantado de Médula do Rio Grande do Norte (HATMO-RN) tem desempenhado um papel fundamental no apoio aos pacientes e na conscientização sobre a doação de medula óssea desde 2008. Atuando diretamente na formação de uma rede de solidariedade e voluntariado no estado, o grupo apoia pacientes que passam por transplantes de medula óssea e oferece suporte emocional e social a eles e suas famílias, desde o diagnóstico até a recuperação.

Rosali Cortez, presidente da HATMO-RN, explica que a associação nasceu da necessidade de ajudar pacientes que enfrentaram dificuldades em encontrar doadores compatíveis. “Fomos procurados por pessoas que precisavam da doação, que sabiam que não iriam sobreviver sem um transplante, e a partir desse pedido, eu fiz a promessa de lutar por todos que precisavam de medula óssea. Tenho a missão de sensibilizar a população para a importância do cadastro e da doação”, compartilha Rosali.

Além do apoio direto aos pacientes, a HATMO-RN realiza campanhas educativas e promovendo palestras para divulgar a importância do cadastro no REDOME. Na última sexta-feira (10), foi celebrado uma data especial na Associação, nomeada “Dia de Doar da HATMO”, desenvolvida para fortalecer a necessidade do apoio financeiro para quem depende do projeto para se alimentar e manter as contas em dia durante o tratamento, além da importância do cadastramento como doador de medula óssea.

“Aumentar o número de doadores cadastrados é essencial para que possamos garantir que mais pacientes tenham acesso ao transplante de medula óssea, que muitas vezes é a única forma de cura para doenças hematológicas”, enfatiza Rosali. Ela ainda destaca que, para encontrar um doador compatível, é necessário que haja pelo menos 100 mil pessoas cadastradas.

Como se tornar um doador?

Para se tornar um doador de medula óssea, basta ter entre 18 e 35 anos, estar em boas condições de saúde e realizar um simples exame de sangue para verificar a compatibilidade genética com pacientes que necessitam do transplante. O cadastro pode ser feito diretamente nos hemocentros ou por meio do aplicativo REDOME, que facilita o processo de inscrição e o acompanhamento das etapas.

Em Natal, dois hemocentros são cadastrados pelo REDOME para a doação voluntária de medula óssea. O Hemonorte, localizado na Avenida Almirante Alexandrino de Alencar, 1800, no bairro Tirol, funciona de segunda a sábado, das 7h às 18h. Já o outro ponto é a Hemovida, localizada na Avenida Nilo Peçanha, 199, no bairro Petropólis, com atendimentos de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h.

Valquíria Bandeira, médica hematologista especialista no transplante de medula óssea, ressalta que a falta de informações sobre o processo de doação é um dos principais obstáculos enfrentados pelos potenciais doadores. “Muitas pessoas têm receio porque não sabem como funciona o processo, mas é simples e seguro. A coleta de células-tronco pode ser feita por meio de uma coleta de sangue ou até de um procedimento de aspiração da medula, que é feito em ambiente hospitalar e com toda a segurança”, explica.

Nas exceções para estar apto a se cadastrar como um doador de medula óssea estão os diagnósticos de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), hepatite C, cânceres (menos de pele) e esquizofrenia. Outras doenças que estejam em tratamento e controladas, como epilepsia, diabetes, asma, tireoide de Hashimoto e vitiligo podem ser liberadas para cadastramento no REDOME.

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