Foi exatamente a cerca de 80 anos, uma mulher negra
andarilha, em situação de vulnerabilidade que faleceu na zona rural rural de
Itajá, naquela época não existia a BR-304, pois apenas uma estrada carroçável
interligava o antigo saco hoje Itajá as cidades de São Rafael e Santana do
Matos, naquela época uma senhora de aproximadamente 49 anos, falecia de fome e
de sede, identificada por guida. Na manhã deste domingo (9) de março uma missa campal
foi realizada no local aonde foi
sepultada a mulher negra, um marco foi plantado, a história foi lembrada, e
futuramente será regulemantada com objetivo de se tornar um turismo religioso em
nossa cidade. Delcio cosme relembra toda história.
Uma equipe formada por Josimar Lopes, Gildenor de Brito,
Possidônio Neto, Argemiro Neto, e família do saudoso do Saudoso João Varela de
Melo, construíram um cruzeiro, aonde homenageia e reelembra a história e o
forte nome Cruz da Negra, que vem há decáda ganhando notoriedade, por motoristas
e caminhoneiros de todo o brasil, porém para a nova geração de Itajá fica a
pergunta?
O advogado e escritor,
criador da bandeira de Itajá, José Evangelista Lopes, escreveu uma crônica com
o título ‘A MARTIR DA CRUZ DA NEGRA’, nela conta um pouco de uma parte da
história e de todos os personagens, ele ainda pede que o poder público possa
fortalecer se tornando patrimônio cultural religioso.
A MÁRTIR DA CRUZ DA NEGRA
(Por José Evangelista Lopes)
A Cruz da negra, é um local onde caminhos se
bifurcam, no meio do misticismo, sob o aspecto do medo e do assombroso. José
Evangelista conta que quando era estudante no internato do Colégio Padre João
Teotônio, em Santana do Matos, em suas férias de Junho e dezembro, ele se
deslocava para o Saco ( Hoje ITAJÁ), onde
visitava seus familiares e, ao mesmo tempo, ter o merecido repouso e
descanso do puxado ano letivo.
Á época, a estrada para o ITAJÁ, Ficava na acauã, próxima á ponte sobre o Rio
Piranhas-Açú, portanto um pouco distante. Dada a distância, eu sempre optava
para descer da Cruz da Negra , por ser mais perto apesar do medo que mim cercava
vendo aquela cruz na minha frente, como simbolizando o passado de alguêm que
morrera naquele lugar tão ermo e hostil.
Sempre mantive a minha curiosidade sobre a Cruz
da Negra, e, de uma certa feita, mim
dirigir a casa do Sr João Varela, a beira da estrada vicinal, que interligava
São Rafael ao Itajá. E lá chegando, pedir um copo de Água, á qual me foi
entregue numa quenga-de-coco por sua filha, de nome Laura, o jeito foi beber
aquela água salobra, sem quaisquer resquícios de higienização, pois eu estava
com muita sede.
Era mais ou menos, 11:00h da manhã, a família
se encontrava almoçando, tendo como base de apoio uma rústica mesa, com quatro
tamboretes forrados com couro de bode. Naquele momento, sobre a mesa, constava
um alguidar de barro, abastecido de feijão macassar, sem nenhuma mistura, uma
pequena cuia de farinha e uma rapadura. Mesmo assim áquela família foi muito
gentil para comigo, oferecendo-me aquele singelo desjejum, no que de pronto,
agradeci.
Já que eu estave naquele momento, frente a
frente, com o Sr, João Varela e sua filha Laura, passei a entrevistá-los, cujo
o assunto, foi a Cruz da Negra, arrodeado de mistérios, crendices populares e,
até mesmo, um misticismo carregado de um sincretismo religioso, tão presente no
ITAJÁ, inicialmente, perguntei-lhes:
- Se áquela família gostava de morar naquele
lugar tão ermo, e bem próximo daquela grande cruz?
- Áquela mesma família deu o sim, como
resposta. “A única dificuldade que temos, é
de ir buscar água, lá em baixo no Açude do Saco. Lá, eu tenho uma vazante aonde a gente planta
feijoão, batata-doce, jerimum e melancia. De lá, trago ração para manter uma
vaquinha que fornece o nosso leite de cada dia’’.
- Como é, essa história, desse mistério que cerca a Cruz da Negra, Indaguei:
- Olhe Jovem, moro aqui há muitos anos, mais,
ninguém sabe como surgiu essa grande cruz, Os mais velhos contam que uma mulher
de cor negra, passando por essas bandas, morreu de sede e de fome, tendo sido
comida pelos urubus. Somente meses depois foi encontrada sua carcaça, com a
aparência de ser uma mulher de cor negra
Um filho de Deus que morava no Saco teve piedade daquela triste situação, e
resolveu construir áquela cruz.
Ao falar que uma pessoa do Saco (Hoje ITAJÁ),
Teria construído áquela cruz, para homenagear aquela mulher de cor negra,
perguntei se tinha alguma ideia de quem foi o benfeitor dessa caridade humana?
Não soube precisar quem teria sido, limitando-se a dizer quem era uma pessoa de
boas posses que morava no Saco (HOJE ITAJÁ).
O escritor teve a oportunidade de registrar,
que no dia 5 de setembro de 2021, fez uma visita à Cruz da Negra, em pleno
tabuleiro, bem perto da Rodovia BR-304. Em chegando ali, encontrou uma cruz de
ferro com 1 metro de altura, substituindo à anterior, que era de madeira e bem
maior. Fiquei surpreso, mesmo, ao encontrar no pedestal daquela cruz, sobre um
lajedo, restos de velas, mostrando que pessoas devotas vão, ali, pagar
promessas por algum pedido feito à Negra. Cria-se, assim, uma espécie de
sincretismo religioso, com suas crendices populares.
Sobre esse assunto de Crendices Populares,
realizei ínumeras pesquisas realizadas no Vale do Açú, principalmente no meu
Torrão natal, o ITAJÁ comprovando a existência de um estado de empatia mágica
da intranquilidade, de tranferências para as ações alienadas dos problemas, que
lhes são parecem solução do ponto de vista,
econômico-social.
As repetidas expressões em que o apelo ás
divindades é formulado, dão entender esta insegurança e esta incerteza para menores fatos de nossa vida corriqueira.
Assim, o mágico se associa aos problemas do cotidiano, para todos os atos da
vida. No caso das doenças por exemplo, as benzições, a ação do curandeiro, da
bezendeira, a feitiçaria, o mau olhado, são fortes expressões que indicam esse
teor mágico.
Com a penetração do espiritismo no interior, o
mágico vai perdendo sua influencia e, grande número de curandeiros e
benzendeira, obtém hoje, o poder da cura e de intervenções, neste ou áquele
sentido, através dos espiritos. No ITAJÁ, Porém, a prática do espiritismo,
ainda não é conhecida, uma vez que funcionam, domesticamente, as rezadeiras,
benzendeiras e curandeiras que se encarregam, através de orações, de tratar as
doenças, resolver outros casos, até mesmo de problemas amorosos, entre tantos
outros que lhes são apresentados.
Muito comum, é o “mau olhado”, ou seja, o poder
de pessoas transmitir o mal às plantas,
animais e, até mesmo, ás crianças, de tal forma que há uma prevenção contra
essas criaturas, quando lhes são apresentadas a estranhos ou visitas para se
livrar de qualquer responsabilidade, o estranho ou visitante, repete logo o
característico “Benza Deus’’, depois do elogio costumeiro.
Ao fazer a benzição, em caso de “mau olhado”,
comunente, com um galho e arruda ou de pinhão, acredita-se que, por
simpatia, transfere-se o “mau olhado” e,
o galho da planta utilizado, murcha imediatamente quando se trata de cura de
trilhamento (torções), o benzedor ou benzedeira, se mune de uma agulha com
linha e, à medida que vai fazendo cruzes sobre a parte afetada, repete mais ou
menos, o seguinte:
- O que cura? Carne trilhada, nervo torto,
junta desmentida, (ou que for)… eu te
curo, eu te corso com os santos poderes do Nosso senhor!!!
Costumam, ainda, Algumas Benzendeiras, ao mesmo
tempo que cosem, molhar a parte afetada com um saquinho cheio de sal ou cinza
de fogão. Essa experiência de benzição, eu vivi quando ainda criança, no meu
rincão em ITAJÁ.
Era bastante sofrer uma torção no pé ou
qualquer machucão adquirido numa pelada de futebol para que eu fosse correndo
para Mãe Naninha ( Minha vó, por parte do meu pai adotivo, Chico Chimbinha),
afim de rezar ou benzer, pois ela era a mais eficiente “rezadeira” do lugar.
Pelo que constatei, in loco, vendo aqueles
cotos de vela aquele lajedo, sugiro ao Poder Público Municipal de Itajá,
proceder uma peregrinação anual em visita á Cruz da Negra, afim de incrementar,
no município o turísmo religioso. Fica portanto, a minha sugestão para
reverenciar à MÁRTIR NEGRA, tendo como data do tal evento, o dia 5 de setembro,
quando ali estive e acendir sete velas, in memória àquela mulher negra.
NATAL 5 DE SETEMBRO DE 2021