As ações de capacitação técnica e consultorias têm sido fundamentais para o avanço da produção de mel de abelhas no Rio Grande do Norte, que alcançou, em 2023, quase 900 toneladas, movimentando cerca de R$ 13 milhões, segundo dados do IBGE. Apesar dos números positivos e do crescimento constante, produtores ainda enfrentam dificuldades para superar entraves na comercialização, especialmente relacionados à informalidade e à falta de regularização sanitária.
A assistência oferecida por entidades como o Sebrae e a Federação da Agricultura e Pecuária do RN tem sido fundamental nesse crescimento. Para Nilson Dantas, gestor de Apicultura e Meliponicultura do Sebrae, a atividade apícola representa uma das mais promissoras da agropecuária local devido ao seu excelente custo-benefício. “É uma atividade muito rentável. Com custo de produção entre R$ 3 e R$ 4, o mel é vendido a R$ 15 o quilo”, afirmou Nilson.
Atualmente, o Sebrae atende cerca de 300 produtores em diferentes regiões potiguares, oferecendo capacitações técnicas e estratégias de manejo. “O objetivo é que os produtores consigam aumentar a produtividade com os recursos que já têm. Também damos suporte na regularização, embalagem, rotulagem e comercialização”, explicou Nilson.
O município de Apodi lidera o ranking estadual, com produção avaliada em R$ 1,611 milhão em 2023. Outros municípios também registraram resultados expressivos, como Acari (R$ 630 mil), Caraúbas (R$ 576 mil), Cerro Corá (R$ 520 mil) e Governador Dix-Sept Rosado (R$ 508 mil). Felipe Guerra, Lagoa Nova e Nísia Floresta são outros exemplos de cidades com resultados acima dos R$ 300 mil. Em 2019, a produção potiguar gerou R$ 6 milhões, saltando para R$ 8,7 milhões em 2020 e chegando aos R$ 13,1 milhões atuais.
O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Apodi , Antônio Evandi, destaca a importância da assistência técnica na região.
“Assistimos diretamente 60 produtores, mas estimamos que existam cerca de 400 apicultores no município. A produção por colméia no ano era baixa, entre 15 e 20 quilos de mel. Um ano depois da assistência técnica, tem produtor passando para 80 quilos”, detalhou.
Isaac Wallace de Souza, apicultor que também atua na Cooperativa Potiguar de Apicultura e Desenvolvimento Rural (Coopap), começou na atividade aos 15 anos ao lado do pai e hoje produz mel de forma independente em Apodi. “No início, foi muito difícil. Cheguei a pensar em desistir. Mas, com capacitação e acesso ao crédito, minha produtividade melhorou. Hoje consigo média de 25 quilos por enxame em quatro colheitas anuais, produzindo cerca de mil quilos por ano”, explicou.
Um ponto essencial na melhora produtiva é a estratégia de melhoramento genético desenvolvida pelo Sebrae. “Coletamos as abelhas rainhas e as enviamos a uma empresa especializada em Minas Gerais. Após a reprodução e fecundação, elas retornam ao RN com material genético superior”, explicou Nilson Dantas.
Gargalos
Apesar dos avanços na produção de mel no RN, os apicultores apontam que ainda há a necessidade de melhorar o processo de comercialização, que dá margem à clandestinidade. Pelos dados de 2023 do IBGE, o RN ocupava a 11ª posição na produção de mel entre os estados e a 15ª em valor movimentado.
Apicultores apontam que grande parte da produção ainda sai dos municípios sem nota fiscal, o que interfere nas estatísticas. “Boa parte do mel de Apodi sai daqui sem nota e vai até para outros estados sem entrar nos dados da produção local. A cooperativa não tem capital de giro para comprar a produção dos apicultores, que recebem oferta dos atravessadores e vendem”, relata o apicultor Isaac Wallace.
Em Nísia Floresta, os produtores cooperados conseguem vender o que produzem, mas dizem que poderiam melhorar o faturamento, se não precisassem de atravessadores para escoar a produção. “Nosso foco agora está em fazer a embalagem própria, já que ganhamos o selo do Idiarn e temos capacidade de produção”, comenta o presidente da cooperativa José Miranda.
Apicultores recebem certificação
Em Nísia Floresta, o apoio do Sebrae também transformou a realidade local. O município, que ocupa a 13ª posição no ranking estadual, produziu em torno de R$ 301 mil em 2023. Recentemente, produtores vinculados à Cooperativa dos Apicultores de Nísia Floresta (Coopa) comemoraram a conquista do selo de certificação estadual expedido pelo Idiarn, que permite a distribuição e venda segura para todo o RN.
José Miranda, presidente da Coopa, destacou a importância desse avanço. “Com esse selo, podemos vender nosso mel em todo o estado.
Queremos também o SIF, que é o selo de inspeção federal, para a gente vender para todo o Brasil e para o exterior”, revelou Miranda.
A Coopa existe desde 1999 e desde 2010 adotou a apicultura como sua principal atividade. São 55 cooperados, sendo 29 apicultores.
A espécie de abelhas que a cooperativa utiliza é a Apis mellifera, conhecida por ter ferrão. Por ano, chegam a até quatro colheitas, somando cerca 10 toneladas. O grupo tem recebido suporte técnico do Sebrae por meio do Projeto Territórios – Setorial Apicultura há três anos, com consultorias e capacitações focadas nas boas práticas sanitárias e de manejo.
Haroldo Abuana, produtor nisienses, há quatro anos iniciou a atividade e destaca a importância do acompanhamento técnico para a produção. “Hoje, tenho cerca de 90 colmeias produzindo aproximadamente 1.500 quilos de mel por ano em duas colheitas. O melhoramento tecnológico tem sido decisivo para os resultados”, afirmou. TN