A Petrobras nomeou o ex-funcionário Luís Fernando Nery para assumir interinamente a Gerência Executiva de Comunicação em 1º de outubro. Nery, que já ocupou o mesmo cargo entre 2015 e 2016, foi demitido em 2019 após uma apuração interna que constatou desvios em verbas de publicidade e eventos, envolvendo suspeitas de corrupção.
Apesar disso, o presidente da estatal, Jean Paul Prates, já havia tentado nomear Nery como gerente executivo, destaca O Globo. Mas a recontratação foi vetada pelo comitê de conformidade da empresa devido às irregularidades cometidas no passado. Como alternativa, Nery foi abrigado como assessor especial da presidência, cargo que não requer aprovação do compliance.
Durante os últimos cinco meses, Nery recebeu um salário de R$ 63 mil e participou ativamente de várias decisões importantes na área de publicidade e patrocínio. Nesse período, a gerência de comunicação foi liderada por Vânia Gonçalves, funcionária de carreira da Petrobras.
De acordo com O Globo, Nery é indicação pessoal do presidente Lula, o que justificaria a insistência para nomeá-lo. Por isso, o presidente da Petrobras encontrou uma maneira de contornar as exigências do compliance e colocar Nery no cargo.
Segundo as regras da empresa, um “substituto eventual” é nomeado quando é necessário cobrir uma determinada posição enquanto o executivo titular não assume o cargo. No entanto, de acordo com a reportagem do jornal carioca, funcionários da área de comunicação afirmam que, na prática, Nery já estava comandando a área desde fevereiro.
A Petrobras confirmou a nomeação de Nery para a nova função, mas não explicou por que ele assumiu o cargo no lugar de Vânia Gonçalves e nem será submetido a uma nova avaliação do compliance como “substituto eventual”.
Internamente, há preocupações de que Nery possa usar sua influência para se manter no cargo. Embora os salários na Petrobras não sejam públicos, estima-se que a remuneração de um gerente executivo varie de R$ 53 mil a R$ 79 mil.
Luis Fernando Maia Nery possui ligações com Wilson Santarosa, gerente de comunicação da Petrobras entre 2003 e 2015, período dos governos Lula e Dilma Rousseff. Ele também mantém conexão próxima com a Frente Única dos Petroleiros (FUP), que exerce forte influência na gestão Prates.
Samba
Nery foi alvo de uma comissão interna de apuração (CIA) da estatal em 2016, sob suspeita de gastar mais de R$ 1 milhão em ingressos para camarotes no carnaval baiano destinados a políticos e auxiliares da então presidente Dilma. Além disso, foi acusado de pressionar a escola de samba Portela para escolher sua esposa como rainha de bateria em detrimento da atriz Sheron Menezzes, quando a Petrobras patrocinava as escolas de samba do Rio de Janeiro.
O estatuto da Petrobras estabelece que não podem ser indicados para cargos de administração na empresa aqueles que possuam “falta grave relacionada ao descumprimento do Código de Ética, Guia de Conduta, Manual do Programa Petrobras de Prevenção à Corrupção ou outros normativos internos” ou que tenham sido “enquadrados no sistema de consequência disciplinar”.
Essa não é a primeira vez que Prates indica executivos envolvidos em escândalos para cargos na cúpula da Petrobras, mesmo sem a aprovação da área de governança e conformidade. Um exemplo emblemático é Marcelo Mello, diretor jurídico da estatal, que foi sócio do ex-diretor e delator da Lava Jato Nestor Cerveró em uma offshore utilizada para dissimular a compra de um duplex no Rio. Outro executivo indicado por Mello é Carlos Borromeu de Andrade, que atuou na diretoria internacional da Petrobras durante os desvios do Petrolão.
Com informações do O Antagonista