A Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes no Rio Grande do Norte (Abrasel) e outras entidades do setor de
alimentação e eventos no RN criticaram a Medida Provisória 1.202, publicada no
dia 28 de dezembro, que revoga benefícios fiscais do Programa Emergencial de
Retomada do Setor de Eventos (Perse). Para interlocutores do setor, a revogação
do Perse ameaça empresas e empregos, uma vez que o programa foi criado para
garantir isenção tributária ao setor de eventos e turismo por 60 meses afetados
diretamente pela pandemia de covid-19.
A
medida provisória do Governo Federal revogou o artigo 4º da Lei 14.148/2021,
que instituía o Perse. O dispositivo reduzia a zero as alíquotas do PIS/Pasep,
da Cofins, da CSLL e do IRPJ para esses setores. Pela MP, o Perse será extinto
gradativamente, segundo a proposta do governo, com previsão para retomada de
tributos já a partir do próximo dia 1º de abril.
Segundo
o presidente da Abrasel-RN, Paolo Passariello, a medida é um baque para o
setor, que ainda não se recuperou por completo dos impactos da pandemia de
covid-19.
“As empresas maiores e alguns médios e pequenos aproveitaram do Perse e
fizeram planejamento fiscal para cinco anos e agora ele tem o benefício
cortado. Também, alguns que estavam no Simples mudaram de regime tributário
para o lucro presumido. Isso tudo vai gerar um desequilíbrio com possibilidade
de cortar empregos que foram mantidos porque o Perse ajudou para isso”, aponta
o empresário.
Para o presidente do Sindicato dos Hoteis, Bares, Restaurantes e
Similares (SHBRS), Habib Chalita, a medida precisa ser revista pelo Governo
Federal. Ele aponta que essa é uma das poucas ferramentas atualmente que dão
suporte ao setor de alimentação.
“É preocupante que o Governo Federal queira mexer no Perse. Muitas
empresas ainda estão com dívidas e apresentam problemas para conseguir
pagá-las, dívidas estas que foram obtidas no cenário da pandemia. Essas
empresas precisam do Perse e entender a importância que o setor de alimentação
têm dentro da economia”, disse.
A revogação atinge ainda o setor de eventos, outro segmento que foi
afetado na época da pandemia de covid-19. Segundo Jarbiana Costa, presidente
executiva do Natal Convention Bureau, o Perse vinha “mitigando” prejuízos e
lembra que o setor dos eventos foi um dos primeiros a suspender as atividades
durante a pandemia e, praticamente, um dos últimos a retornar os trabalhos.
“Ainda continuamos sentindo os efeitos da pandemia, mas num grande
esforço de retomada do cenário pré-pandemia. Para se ter uma ideia, em 2024 o
Centro de Convenções não tem mais pauta para receber eventos. Nós que fazemos o
Natal Convention e trabalhamos diretamente na captação de grandes eventos para
o nosso destino, já estamos prospectando e captando eventos para acontecer em
2025 em diante. Ou seja, estamos nessa retomada e trabalhando muito forte para
conter os impactos que tanto nos prejudicou. Mas, com a Perse abruptamente
cancelada, empresas que estavam contando com essa isenção, agora terão todo o
seu planejamento financeiro afetado”, aponta.
No RN, 75% das empresas operam sem lucro
Pesquisa realizada com mais de 300 filiados da Associação Brasileira de
Bares e Restaurantes do Rio Grande do Norte (Abrasel-RN) constatou que 75% das
empresas não tiveram ganhos no mês de novembro, com 23% relatando prejuízos e
52% ficando em equilíbrio. O número de empresas realizando lucro, no entanto,
teve estabilidade na casa dos 25%. A pesquisa foi feita entre os dias 20 e 27
de dezembro de 2023.
Além disso, 45% das empresas ouvidas acumulam dívidas em atraso. Destas, 58%
devem impostos federais, 45% impostos estaduais, 39% dívidas bancárias, 36%
devem a fornecedores, 23% devem encargos trabalhistas, 17% estão inadimplentes
com serviços públicos (como água, gás e energia elétrica) e 19% estão com o
aluguel do imóvel atrasado.
Segundo Paolo Passariello, presidente da Abrasel-RN, as dívidas refletem o fato
de que os bares e restaurantes do Rio Grande do Norte ainda sentem efeitos da
pandemia de covid e reforça necessidade de manutenção do Perse.
“Essa é a única medida feita pelo setor de eventos, bares e restaurantes, que
foi um dos mais afetados. Em nossas pesquisas dá para ver que uma grande
parcela dos associados ainda vive com prejuízos e dívidas. Entre 2022 e 2023 as
empresas começaram a pagar os empréstimos contratados na pandemia, com uma alta
quantidade de parcelas. Temos uma recuperação em nível de faturamento, mas não
em nível de resultados”, aponta.
Reunião com Haddad
Nacionalmente, a Abrasel já havia entrado com uma ação no STF no ano
passado para ampliar o alcance das empresas que poderiam ser beneficiadas pelo
programa, que só alcançava aquelas que estivessem inscritas no Cadastur até
março de 2022.
“Entendemos a intenção do governo, mas as mudanças no Perse vão prejudicar
fortemente o setor, que pagou uma conta injusta e desproporcional para o
bem-estar coletivo durante a pandemia e segue tentando se recuperar”, disse
Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel.
“Agora, com a publicação da MP que pode revogar o benefício, a Abrasel vai
procurar o ministro Haddad para apresentar a atual situação dos
estabelecimentos e como esta medida pode afetá-los ainda mais. Estamos
confiantes com a abertura dada pelo ministro para conversar conosco e vamos
trabalhar para entender de que forma podemos equacionar”, afirma Solmucci.
Com informações Tribuna do Norte