As reclamações sobre as más condições das rodovias estaduais no Rio Grande do Norte não são necessariamente uma novidade. Mas, em situações como a que ocorreu na semana passada, onde os motoristas que trafegam pela BR-304 são obrigados a pegar rotas alternativas em razão dos danos provocados pelas fortes chuvas na via federal, a insatisfação tende a se intensificar. Além do aumento do percurso provocado pelos desvios, a buraqueira na pista reforça o risco de acidentes e danifica os veículos. É o caso de quem tem que seguir pela RN-118, por exemplo.
A estrada é uma das alternativas para quem precisa se deslocar entre Natal e Mossoró após a interdição dos quilômetros 204 a 206 da BR-304. O bloqueio ocorreu no último domingo (31 de março) depois da queda de uma ponte, provocada pelo rompimento de açudes entre Lajes e Caiçara do Rio dos Ventos em razão dos fortes temporais que atingiram a região. De acordo com Deone Jerônimo, secretário de Governo de São Rafael, a situação da RN-118 é bastante crítica. A via garante acesso à cidade e tem sido usada como opção de desvio.
“A situação dessa RN é muito precária. Inclusive, o recapeamento dela já foi alvo de várias solicitações por parte do prefeito e também de vereadores, ao Governo do Estado. Isso deve acontecer com os serviços anunciados recentemente pelo Executivo estadual, mas, de fato, a situação é muito complicada. O fluxo de São Rafael para cidades vizinhas como Assu é intenso e a reclamação dos motoristas é gigantesca e rotineira. Tem muita gente que tenta tapar os buracos maiores, mas a situação só se resolve mesmo com o recapeamento”, afirma o secretário.
“Com o bloqueio, a situação vai ficar ainda mais crítica por causa do fluxo de veículos pesados e também do período chuvoso, o que vai aumentar o número de crateras”, completa Jerônimo. O trecho mais problemático, segundo ele, é o que liga a BR-304 a São Rafael.
Outra rodovia que tem sido utilizada como nova rota é a chamada Estrada do Óleo (RN-401). Ela serve de opção para quem sai de municípios como Lajes e seguem para a capital. “Há uma reclamação muito grande dos nossos motoristas sobre a existência de buracos nessa via”, disse Miguel Pinheiro Neto, o prefeito da cidade.
Ele informou que espera, o quanto antes, o início das obras de restauração desta e de outras rodovias, conforme anunciado pelo Governo do Estado recentemente. “Não houve nenhuma obra de recuperação dessas estradas nos últimos tempos, mas algumas licitações foram abertas para a requalificação e a gente espera que elas sejam homologadas agora no final de abril para maio”, comenta Pinheiro.
A TRIBUNA DO NORTE procurou a Secretaria de Estado da Infraestrutura (SIN) para saber como estão os processos para início das obras. Gustavo Coelho, titular da pasta, informou que “os editais foram publicados” e que “os prazos para as licitações estão em curso”. De acordo com ele, nesta semana deverá ser anunciada a empresa que irá executar os trabalhos em 10 trechos da malha estadual.
Prejuízos para a economia podem se agravar
O debate em torno da situação das estradas do RN também é foco de setores econômicos importantes. A preocupação começa com o aumento do percurso provocado pelo desvio na BR-304. Além de ligar as duas principais cidades do Rio Grande do Norte, a via serve para conectar o transporte de cargas com o Ceará, Paraíba e Pernambuco. Mercadorias dos mais variados gêneros são escoadas pela rodovia.
Com a interdição, o percurso das viagens ficou maior e o tempo para a entrega de produtos, mais longo – em média, duas horas –, conforme projeção do gerente executivo do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do RN (Setcern), José Neto. A consequência disso será a elevação de custos com combustíveis, que afetará inevitavelmente, as transportadoras, segundo ele.
“Os gastos com combustíveis vão aumentar em torno de 15% a 20%. E é o transportador quem vai arcar com os prejuízos de aumento de rota, porque os contratos já estão fechados”, avisa. Para além disso, destaca, outro problema é a situação das vias alternativas. “Existem algumas rodovias estaduais que estão muito deterioradas. São estradas completamente esburacadas, com efeitos no estado de conservação dos veículos e uma demora ainda maior para a descarga das mercadorias”, comenta José Neto.
O presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens do RN (Sindicam/RN), Carlos Barbosa, ressalta que os prejuízos previstos pelo bloqueio na BR-304 podem ser agravados pelas condições das estradas utilizadas como rotas alternativas. “Na Estrada do Óleo, a situação vai piorar com o novo fluxo. Ela não é uma BR, portanto, não está preparada para receber tantos carros. Então, as condições da pista vão provocar danos aos veículos”, diz.
“Serão problemas como quebra de amortecedores, molas, pneus furados ou estourados. Tudo isso significa grandes prejuízos, com reflexos nos preços das mercadorias. Sem falar que a demora para entrega pode provocar a perda total de itens perecíveis. O estabelecimento que comprar esse produto não vai querer perdê-lo e vai ‘repor’ o preço em cima de outras mercadorias”, pontua Barbosa. “A gente espera que um desvio ao lado da BR-304 seja feito rapidamente, afirma José Neto, gerente executivo do Setcern. O prazo para construção do desvio é de 15 dias.
Neto esclarece, no entanto, que a recuperação das vias estaduais, independentemente de uma solução mais rápida no trecho bloqueado, precisa ser concretizada. “As mercadorias dos inúmeros segmentos que abastecem o Estado precisam de melhor estrutura para escoamento”, cita. Quem está ligado ao setor salineiro, cuja produção se dá na região da Costa Branca, também tem muito a reclamar. “Algumas das estradas dessa região estão praticamente intransitáveis”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria de Sal (Siesal), Aírton Torres.
Com a interdição na BR-304, ele diz que as dificuldades para enviar o produto a outras regiões do Estado e a mercados como Paraíba e parte de Pernambuco, aumentam e podem onerar o preço final do item. “Não dá para mensurar de quanto seria a alta porque não há um estudo sobre isso, mas a consequência é que o fechamento vai encarecer o produto no Estado, especialmente, para o lado leste (Natal e Grande Natal), além de Paraíba e, possivelmente, algumas regiões de Pernambuco”, avalia Torres.
“Sem a BR, nós vamos ter um desgaste muito maior das outras rodovias”, diz ele, ao comentar sobre a necessidade de recuperação das estradas estaduais. “A restauração é um desejo de vários setores econômicos, porque a situação das rodovias está muito precária. Estamos vendo todos os dias a necessidade de melhorar essas condições em diversos trechos”, conclui o presidente do Siesal.
Vias receberão operação tapa-buracos
Segundo Gustavo Coelho, secretário estadual de Infraestrutura, as rodovias que hoje servem de alternativa à BR-304 receberão a operação tapa-buraco como medida emergencial nesta semana. “Contamos com o apoio do Dnit para esta demanda para o início da operação nesses trechos. Estávamos com os serviços de tapa-buracos em outras vias e não podíamos deixar o trabalho nesses locais sem conclusão. Mas agora, com a urgência por conta dos desvios , o Estado vai dar uma atenção especial a essas rodovias”, afirmou.
Coelho também comentou sobre como andam os processos para o trabalho de restauração de estradas no Estado. No mês passado, a governadora Fátima Bezerra anunciou que está prevista a recuperação de diversos trechos até o final deste ano. As rodovias estão agrupadas em três lotes, com editais diferentes para cada um. Ao todo, estão incluídos quase 800 quilômetros da malha estadual, em 33 trechos. Os investimentos são da ordem de R$ 428 milhões.
A abertura de licitação do primeiro lote, que abrange nove trechos, ocorreu no dia 22 de março. Já para o lote 2, onde serão contemplados 10 trechos, a licitação foi aberta na última quarta-feira (3). Para o terceiro lote, com 14 trechos, está prevista a abertura do processo licitatório na próxima terça-feira (9). O secretário Gustavo Coelho não quis detalhar como está o andamento dos processos referentes às licitações, mas adiantou que nesta semana haverá a definição da empresa contratada para a execução dos serviços no lote 1.
“Estamos avaliando as propostas. A publicação do resultado da análise está prevista para esta semana que se inicia, mas ainda não existe uma data exata. Em relação ao lote 2, abrimos para as propostas, enquanto que para o terceiro ainda haverá a fase de abertura para os lances. Somente depois de toda a avaliação de cada proposta, a empresa será convocada para assinar o contrato e dar início à ordem de serviço”, descreveu o secretário sem detalhar prazos.
“Como envolve licitações, estamos fazendo tudo com bastante cuidado e prefiro não falar em prazo. O que posso dizer é que o cronograma das obras é de seis meses. Se nós conseguirmos contratar as empresas até o final de junho, é possível seguir as datas estimadas pela governadora [de conclusão dos trabalhos ainda neste ano]”, pontua Coelho.
Com Informações Tribuna do Norte