O resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
– que mede a qualidade do ensino no Brasil – foi negativo para o Rio Grande do
Norte. O Ensino Médio da rede estadual ficou na última colocação e muitas
escolas ficaram entre as piores do Brasil. É o caso da Escola Estadual Luiz
Gonzaga, no município de Pendências, que recebeu nota de apenas 1,8. Essa foi a
segunda pior escola do País. O RN ainda tem outra escola entre as 10 piores. A
Escola Estadual Almino Afonso, em Martins, ficou com nota 2.
Na região metropolitana de Natal, a Escola Estadual Desembargador Régulo Tinôco
está entre as notas abaixo da média do Ideb 2023, com 3,2. A unidade conta com
aproximadamente 900 alunos. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE foi até o local na
tarde desta quinta-feira (15), não encontrou a direção, mas conversou com uma
profissional da unidade.
Sumara Rodrigues, professora da
disciplina de Artes, atribui que essa nota está relacionada à falta de
interesse dos alunos e de incentivo da família. “Quando a gente faz reunião de
pais, quase não vem ninguém. A gente manda atividades para casa, mas não fazem,
então é um costume que se criou já há algum tempo. A gente tenta fazer a nossa
parte, mas se em casa também não faz, aí fica difícil, porque não há o
equilíbrio”, justifica.
Em questões estruturais, Sumara afirma que todas as salas são climatizadas e
receberam grandes mudanças estruturais de 2023 até o momento. Apesar disso, ainda
é comum casos de discentes que depredam o patrimônio, gerando casos de
transferência. Atualmente não existe falta de alimentação na Régulo Tinôco.
De acordo com o visualizado pela docente, um número significativo dos alunos
estuda em um turno e trabalha no contra-turno por necessidade, muitas vezes
sustentando a própria família. “A gente já teve alunos que saíram de outras
escolas, que viraram de unidades integrais para cá, porque ele tinha que
trabalhar durante o dia e não podia ficar dentro da escola”, aponta as
dificuldades notadas em sala de aula.
Em Natal, as notas do Ensino Fundamental também não foram animadoras. A rede
municipal da capital ficou em último lugar, em relação às demais capitais do
Nordeste e do País, tanto nos Anos Iniciais quanto nos Anos Finais. As notas do
Ideb foram 4,5 nos anos iniciais e 3,3 nos anos finais.
Bom exemplo
Em contraponto, o Centro Estadual de Educação Profissional (CEEP)
João Faustino Ferreira de Neto, recebeu a maior nota entre escolas públicas de
Ensino Médio do Rio Grande do Norte, com 5,2. A unidade, localizada em Natal,
no bairro Pitimbu, foi inaugurada há sete anos e conta com 12 turmas com ensino
integral e profissionalizante nas áreas de Meio Ambiente e Nutrição.
Para Elba Carvalho, vice-diretora da unidade, uma dos principais motivos dessa
nota está associado a ser um ensino integral, que vai desde 7h30 às 17h. “O
aluno passa o dia aqui na escola. Então eles ficam mais imersos nesse mundo do
estudo, da educação. Por exemplo, se tem uma aula livre, eles vão pra
biblioteca estudar. Então isso possibilita eles terem esse desempenho”, afirma.
No corpo docente, o CEEP conta apenas com professores pós-graduados, entre
mestrado, doutorado e até PhD. Para eles, esse é um dos principais pilares do
rendimento no Ideb. “Temos uma equipe realmente compromissada, que veste a
camisa, que elaboram a aula para preparar o aluno tanto para o mercado de
trabalho, quanto para o ensino superior”, afirma Mayara Leão, coordenadora
pedagógica.
Esse foi um dos motivos de Angélica Américo, aluna da 3ª série do Ensino Médio,
escolher o CEEP quando surgiu uma vaga remanescente. “Eu gosto muito do ensino
daqui, principalmente das disciplinas básicas que eles focam muito, como
Matemática, enquanto as outras escolas não têm foco no essencial. São
professores excelentes”, opina.
“Temos muitos alunos que vêm de áreas periféricas, de áreas de vulnerabilidade
social e a gente consegue resgatá-los e igual-á-los aos da rede particular.
Transformamos e salvamos vidas através da educação”, defende Tássio Paulo,
diretor da CEEP João Faustino Ferreira de Neto.
Na comparação entre o Ideb de 2021 e 2023, o CEEP João Faustino Ferreira de
Melo ainda chegou a descer 0,2. De acordo com o diretor, essa queda aconteceu
pelo impacto da evasão de alguns alunos. “Muitos chegam aqui, não se adaptam
com a rotina e evadem. Isso acaba gerando uma diminuição na nota e nós não
vamos camuflar essa informação”, afirma.
No entanto, apesar de apresentar os melhores índices do RN, o CEEP não está
fora das dificuldades estruturais apresentadas na rede pública. Essa visão é
colocada pela aluna Angélica Américo, que diz sentir falta de espaços de
convivência durante os intervalos e reformas nas salas de aula. “A umidade gera
mofo e muitas pessoas são alérgicas. Isso também acaba prejudicando”, afirma a
concluinte.
Tássio confirma que apesar do ensino, ainda existem pontos estruturais que
precisam receber melhorias. “É uma escola com muitos desafios e a gente está
fazendo o que pode para melhorar e manter a escola. Os recursos vêm, mas eles
não são suficientes”, relata o diretor da João Faustino.
Empatado com o CEEP João Faustino Ferreira de Melo, também está o CEEP
Professora Lourdinha Guerra, em Parnamirim. A unidade cresceu 0,1 em comparação
ao Ideb de 2021.
TRIBUNA DO NORTE