O impacto dos combustíveis fósseis na mobilidade urbana é um problema bastante discutido no setor automobilístico. Neste sentido, já foram pensadas diversas soluções, de biocombustíveis a carros elétricos. Mesmo assim, as emissões de CO² continuam impactando no meio ambiente, sobretudo no Brasil. Agora, com o surgimento da Inteligência Artificial, a ciência tem mais uma ferramenta para ser utilizada como auxílio.
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), a queima de combustíveis fósseis representa 87% das emissões de carbono. Se analisarmos que o Brasil está na quinta colocação entre os países que mais emitem CO², conforme a Cúpula das Nações Unidas para o Clima (COP29), os dados nos mostram uma situação ainda mais preocupante.
Para estimular projetos voltados a descarbonização de veículos no Brasil, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) instituiu o programa Mover, que “visa promover a expansão de investimentos em eficiência energética, incluir limites mínimos de reciclagem na fabricação dos veículos e cobrar menos imposto de quem polui menos, criando o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] Verde”, aponta o MDIC. A partir disso, são disponibilizados incentivos fiscais para empresas que invistam na diminuição das emissões de carbono.
Uma das medidas aprovadas pelo Mover foi o “Descarbonize.AI: Sistema Integrado para Análise, Monetização e Descarbonização do Tráfego Veicular”, que foi implementado em julho de 2024. A proposta quer utilizar inteligência artificial para integrar sensores automotivos e, a partir daí, mensurar e estimular a redução da emissão de carbono nos veículos.
Busca por amenizar emissão de gases poluentes
Segundo o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Ivanovitch Medeiros, Coordenador-Geral do Descarbonize.AI, a medida surgiu para entender como ocorre a emissão de gases dos veículos ao se deslocarem e como seria possível utilizar a inteligência artificial para entender isso. “Em linha gerais, o projeto descarbonize.ai visa criar uma plataforma veicular onde seja possível estimular os motoristas a usarem combustíveis mais limpos”, afirma.
“A gente usa os dados do veículo com essas técnicas para ter essa informação. A partir disso, podemos mensurar o inventário de carbono porque, desde o ponto de vista de uma pessoa ao de uma frota de veículos ou empresa, isso é muito importante no cenário que a gente está vivendo agora de transição energética”, diz.
A pesquisa se concentra em utilizar um hardware específico e algoritmos de IA embarcados nos veículos para estimar a emissão de gases poluentes em tempo real. “Essa informação é protegida e rastreada por tecnologias blockchain. Um dos objetivos do projeto é criar, a partir dessa informação, créditos de carbono que poderão ser vendidos ou comprados a depender do tipo de veículo (elétrico ou a combustão)”, complementa.
Um dos parceiros da iniciativa é o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), através de atividades de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico. “Adicionalmente, os pesquisadores do Inmetro estão investigando também possíveis modelos de monetização desses dados que possam servir como incentivo à descarbonização veicular para condutores, proprietários e fabricantes de veículos. Um desses modelos, por exemplo, considera o uso de blockchains para conversão dos dados coletados em créditos de carbono”, diz o Pesquisador-Tecnologista do Inmetro e Coordenador Associado do Descarbonize.AI, Wilson de Souza.
“O grande diferencial da pesquisa é buscar por formas de obter essa estimativa aplicando técnicas inovadoras de inteligência artificial, com o objetivo de reduzir as incertezas a fim de melhorar a confiabilidade das medições associadas ao veículo, em diferentes condições de uso”, afirma. Para ele, o aumento da eficiência energética da frota brasileira circulante é o principal critério que norteia os objetivos do projeto.
Em resumo, o Descarbonize.AI utiliza três módulos de funcionamento, que se interconectam para fornecer informações personalizadas para montadoras, incentivando práticas ecológicas e responsabilidade social.
Ainda segundo Wilson de Souza, um dos grandes desafios do Descarbonize.AI é obter uma massa de dados representativa para construir modelos de análise e conhecimento sobre os veículos que estão circulando nas rodovias e áreas urbanas. “Neste contexto, as empresas de transporte rodoviário podem contribuir significativamente para o sucesso do projeto. Estamos abertos a parcerias com empresas interessadas em coletar e compartilhar dados de sua frota circulante, algo que entendemos como de grande valor tanto para o projeto, quanto para a empresa participante”, conclui.
Desenvolvimento da pesquisa
O lançamento dos trabalhos de pesquisa ocorreu logo após a aprovação no edital de 2023, do Rota 2030, atualmente chamado de Mover. O programa é voltado para o impulsionamento de modernização da sustentabilidade nas áreas de mobilidade e logística no Brasil. Por meio dele, o Descarbonize.AI recebe recursos para continuar o projeto até julho de 2026.
Os investimentos de R$ 3,7 milhões são coordenados pela Fundação de Desenvolvimento de Pesquisa (Fundep) para o pagamento de bolsas de graduação, pós-graduação e eventuais despesas. Ao final das pesquisas será entregue um protótipo que será disponibilizado à indústria nacional.
A aprovação da iniciativa no Mover foi celebrada pelo presidente do Inmetro, Márcio André Brito, que, em declarações à imprensa, enalteceu o trabalho e destacou sua importância para o setor automotivo. “Entre as atribuições do Inmetro está a de alavancar a indústria em setores da economia que são estratégicos para o governo e para a sociedade. E a questão sustentável, a busca por tecnologias verdes, é urgente. Esse projeto contempla esse objetivo. Parabéns à equipe técnica envolvida, nos enche de orgulho”, disse.
“Promover a indústria em setores-chave para o governo e a sociedade é uma das principais metas do Inmetro. A adoção de tecnologias verdes é uma diretriz em expansão e se tornará cada vez mais crucial nas próximas décadas”, declarou em outra oportunidade.
Além da parceria com o Inmetro, já mencionada anteriormente, o projeto também conta com apoio da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Volkswagen, Volkswagen Caminhões e Ônibus, Stellantis, Embeddo.
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